Recentemente foi divulgado que a expectativa de vida brasileira seria de 75,5 anos, conforme tábua de mortalidade de 2022 divulgada pelo IBGE, sendo 79 anos para mulheres e 72 anos para homens[1]. Após 3 anos de queda, reflexo da pandemia de COVID-19 (2019-2021), a expectativa de vida voltou a crescer.
E mais, de acordo com o Censo Demográfico 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais de idade cresceu 57,4% na população do país em 12 anos, enquanto o número de crianças com até 14 anos de idade decresceu 12,6%. E mais, enquanto, em 1980, a população brasileira com 65 anos ou mais representava 4,0%, em 2010 representava 7,4%, e em 2022 atingiu 10,9%, o maior registro até agora[2].
A reforçar esse cenário de participação crescente da população idosa, o IPEA apontou projeções populacionais para 2100, em que, além da redução populacional brasileira, a proporção de idosos chegaria a 40,3%, enquanto a de jovens (com menos de 15 anos) cairia para 9,0%[3].
Além disso, segundo alguns estudos, o mercado sênior teria mais disponibilidade de recursos para consumo, visto que, de acordo com dados da Receita Federal DIRPF 2014, os declarantes com idade entre 51 a 80 anos corresponderiam a 41%, sendo que essa parcela teria 66% dos bens e direitos e 46% dos rendimentos tributáveis[4].
Ainda sobre esse mercado grisalho que começa a se desenhar no Brasil, um terço desses consumidores maduros ainda acolheria filhos com mais de 29 anos dentro de suas casas, alimentos e higiene pessoal estariam no foco de seu consumo, ao lado de bebidas e produtos para casa (15% do total de gasto com esses segmentos seria feito por esse público), 92% dos maiores de 50 anos possuiriam imóvel próprio e 39% seriam donos de automóveis[5].
Assim, teriam muito mais dinheiro para gastar do que os mais jovens, porém, quatro em cada dez consumidores acima de 55 anos sentiriam falta de produtos e serviços voltados para eles, o que apontaria para um mercado, até então, aparentemente desconhecido[6].
Enquanto isso, sobre outro viés, essa população também passou a assumir importante papel no núcleo familiar, visto que, segundo levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 91% dos brasileiros com mais de 60 anos contribuem financeiramente para o sustento da casa, sendo que 52% são os principais responsáveis, motivo pelo qual, entre os que continuam trabalhando e já estão aposentados, 71% mencionaram a necessidade de complementação da renda como principal motivo para isso[7].
Nesse ponto, em razão de sua aposentadoria e da possibilidade de aquisição de dinheiro por crédito consignado, uma outra realidade também surge: o superendividamento desse público por consumo excessivo, gastos médicos e despesas com descendentes.
Diante desse cenário, o mercado da terceira idade está em crescimento, tanto no que se refere ao mercado profissional como ao mercado de consumo, mas seu potencial tem sido, ainda, ignorado por alguns setores da economia.
E mais, percebe-se que, cada vez mais, os avós participam de forma ativa no dia a dia de suas famílias, apoiando financeiramente os filhos e cuidando de seus netos, já que muitas famílias brasileiras não teriam condições financeiras para arcar com as despesas cotidianas, sem essa ajuda dos idosos, sejam eles aposentados ou aqueles que se mantém em plena atividade laboral.
Feito esses apontamentos, a terceira idade deveria ser um período na vida dos indivíduos de calma e tranquilidade, com a garantia do seu bem-estar nesse final de ciclo, considerando que as atividades laborais já teriam sido deixadas de lado e, com isso, os idosos passariam a depender de aposentadorias, reservas financeiras e ajuda de terceiros (como é o caso de cuidadores e casas de repouso).
Infelizmente, por falta de planejamento financeiro, inexistência de reservas ou dependência de descendentes, essa faixa etária ainda precisa ter uma garantia financeira para imprevistos (tratamentos médicos, despesas funerárias ou suporte financeiro de filhos/netos), daí surge a oportunidade de seguros para esse público.
Porém, por conta dos maiores riscos de invalidez, doenças graves e proximidade do evento morte, passa a ser um serviço de maior custo que aqueles destinados ao público mais jovem.
Esclarecido isso, a maior parte dos seguros de vida é desenhado para pessoas entre 14 e 60/65 anos, com a possibilidade de cancelamento (não renovação) quando o cliente atinge 70 anos, assim o ideal seria olhar para os produtos postos à disposição quando mais novos, mas esta não é a realidade de muitos, existindo algumas companhias que, para esse público, oferecem produtos específicos para os maiores de 65 anos (denominado seguro de vida sênior ou seguro de vida para idosos), apesar de reduzidas as possibilidades (como alguns dos exemplos, podemos citar Tokio Marine Seguradora[8], Zurich[9] e BRB[10]), outras que estabelecem limites etários maiores (eventualmente até 80 anos) e outras que restringem a contratação a algumas das coberturas disponíveis a depender da idade do segurado/contratante, como é o caso da limitação para morte acidental e auxílio funeral.
O grande diferencial do seguro de vida é que, por ser tratado de forma diferente da herança, torna-se possível a indicação de beneficiários diversos dos herdeiros legais ou a inversão da ordem de vocação hereditária (como é o caso do seguro de vida multigeracional[11], que visa beneficiar os netos), assim como os trâmites para acionamento do seguro são, em regra, mais ágeis e menos burocráticos que o inventário, facilitando a organização financeira daquele que é beneficiado.
Por fim, com o aumento da expectativa de vida e o aumento da longevidade da força de trabalho, aliada a tendência global de adiar a parentalidade e a busca de bem-estar na velhice, observa-se um potencial de crescimento nessa economia prateada, inclusive no que se refere ao mercado de seguros.
Nós, da Carvalho Nishida, sabemos da importância do mercado segurador se preparar e se adaptar às novas realidades que se desenham no cenário brasileiro e mundial, mas também sabemos da necessidade desse público consumidor ser bem esclarecido sobre os produtos colocados à disposição, limitações das coberturas e prêmios a serem pagos, com o intuito de se evitar a judicialização, aumento de reclamações e o não atendimento do fim a que se destinam esses seguros.
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[1] https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/38455-em-2022-expectativa-de-vida-era-de-75-5-anos
[2] https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18318-piramide-etaria.html
[3] https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/10716-projecoes-indicam-aceleracao-do-envelhecimento-dos-brasileiros-ate-2100
[4] https://senior.ledermanconsulting.com.br/marketing-vendas-consultoria/o-mercado-senior-e-o-poder-de-consumo-da-populacao-idosa/
[5] https://infograficos.estadao.com.br/focas/planeje-sua-vida/o-mercado-grisalho-comeca-a-se-desenhar-no-brasil
[6] https://vocesa.abril.com.br/economia/economia-prateada-a-ascensao-dos-consumidores-60/
[7] https://cndl.org.br/politicaspublicas/52-dos-idosos-sao-os-principais-responsaveis-pelo-sustento-da-casa-revela-pesquisa-da-cndl-spc-brasil
[8] https://www.tokiomarine.com.br/seguros-vida/seguro-vida-senior/
[9] https://www.zurich.com.br/pt-br/seguros-para-voce/vida/protecao-melhor-idade
[10] https://www.brbseguros.com.br/sub-produto/brb-vida-senior
[11] https://blog.mag.com.br/seguros-e-previdencia/avos-e-netos/